quinta-feira, 23 de agosto de 2012

MEMÓRIAS DO CONCILIO José Rafael Solano Durán. Quando Martin Descalzo; concluiu seu ultimo volume; intitulado “Um jornalista no Concilio”; fez eco de uma bela expressão que o Papa João XXIII, utilizou na homilia de abertura em 10 de outubro de 1962. “Agora é somente o amanhecer do primeiro anuncio; o dia que surge, o sol vai nascer”. João XXIII deixou que o Espírito Santo tomasse conta do seu ministério como Vigário de Cristo e anunciou o Concilio Vaticano II. Nestes simples escritos do nosso JC, quero ao longo deste tempo, fazer algumas memórias, do que significou o Concilio da sua abrangência, da sua magnitude do seu alcance. A Igreja depois do Vaticano II não é que seja diferente, daquela de Pentecostes; nem muito menos uma nova Igreja como alguns pretendem apresentar. Acontece que o Concilio Vaticano II, chegou como uma brisa fresca e com ela trazia a voz de Deus que convidada a todos a entrar em contato com um mundo que precisava ouvir de novo a Boa Nova. O Concilio não era outra coisa que uma retomada da proposta do mesmo Ressuscitado; quando se despedindo dos seus discípulos, antes de subir ao Pai lhes disse: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” Mc 16,15. Por que convocar um Concilio, muitos se perguntaram na época e possivelmente até hoje se perguntam. Vamos dar uma marcha re e assim perceber que as coisas não começaram ou nasceram de um momento para outro. O que o Papa João XXIII, fez foi precisamente fazer uma leitura e assim interpretar os diversos sinais que vinham aparecendo. Com a chegada do século XX o mundo deu uma virada em muitos aspectos. A era das comunicações imediatas estava por começar. Um mundo que cada vez mais se aproximava e que nesta aproximação, conhecia fronteiras que até aquele momento eram desconhecidas. Um mundo no qual a linguagem cientifica e industrial, foi revolucionando o pensamento, um mundo no qual as coisas que pareciam impenetráveis, e inacessíveis agora se faziam de uso comum. A Igreja ciente destas mudanças; procurou caminhos que pudessem fazer cada vez mais compreensível o Evangelho. O Papa Leão XIII, por exemplo, no final do século XIX, (Julho 15 de 1891); escreveu uma das Encíclicas mais contundentes em questões sociais e de desenvolvimento humano. A Rerum Novarum; logo depois no pontificado do Papa Pio X, a igreja daria grande importância à formação catequética e doutrinal dos fieis; o Papa Bento XV iria fortalecer o espírito missionário da igreja em diversos lugares do mundo, especialmente na África; assim como também contestaria fortemente as injustiças cometidas durante a I guerra mundial. Pio XI e Pio XII; irão enfrentar uma das atrocidades mais cruéis; as guerras fratricidas entre povos que se consideravam potentes, acabando com a vida dos menos favorecidos. Semitismo, eugenia, II guerra mundial e divisão do mundo em dois pólos, já não geográficos. Oriente e ocidente. Neste ambiente chega o Papa João XXIII. Sua maior virtude a capacidade de escuta. Todos os seus biógrafos apontam, para esta como a maior e mais visível de todas as virtudes do Papa. Um homem que sabia escutar e escutando interpretava, e interpretando procurava responder com bondade e clareza as necessidades dos seus interlocutores. Ricardo Blasquez, um dos maiores conhecedores do chamado ambiente de preparação do concilio, afirma que João XXIII, teve que enfrentar duas grandes dificuldades antes de pensar em convocá-lo. A primeira saber que nem todos aceitariam esta proposta, pois a imensa maioria não considerava necessário um evento desta categoria e a segunda fazer saber a todos que a proposta não vinha dele, mas do mesmo Espírito Santo. A formação da primeira comissão, para convocar o concilio, foi simplesmente um desastre, falando em termos humanos. Os cardeais encarregados de redigir os textos levaram tudo pronto, tudo elaborado e com isso pretendiam fazer com que as coisas chegaram de cima para baixo. Não foi o que Papa queria. João XXIII tinha o seu olhar numa proposta “Ecumênica”, universal. A igreja toda devia participar e com ela, todos aqueles que por alguma razão teriam se afastado ou se encontravam as margens. Esta proposta trouxe consigo serias dificuldades, pois o que para muitos era uma loucura para o Papa era uma necessidade. Depois de muitos trabalhos preparatórios, de muitas decisões, comunicações e correspondências o Papa João XXIII anunciou ao mundo a celebração de um concilio. Para muitos um sonho, para outros um pesadelo. Uma vez anunciado este evento; de cada canto do mundo começaram a chegar bispos, presbíteros, teólogos, protestantes, católicos de outros ritos, homens de ciência de filosofia, mulheres de cultura e artes; em fim a igreja abriu as suas portas para que todos chegassem. Veremos no próximo texto como foi que iniciaram os trabalhos da primeira sessão. Até a próxima edição.

terça-feira, 7 de agosto de 2012


MISERICORDIA QUERO E NÃO SACRIFICIO.
"Rico em Misericórdia"
Diante dos seus conterrâneos, em Nazaré, Cristo expõe as palavras do profeta Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu e me enviou a anunciar a Boa Nova aos pobres, a proclamar a libertação aos cativos e o dom da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos e a promulgar um ano de acolhimento por parte do Senhor».
Segundo o Evangelista Lucas, estas afirmações são a sua primeira declaração messiânica, à qual se seguem os fatos e as palavras conhecidos por intermédio do Evangelho. Mediante tais fatos e palavras, Cristo torna o Pai presente no meio dos homens.
É muito significativo que estes homens sejam, sobretudo os pobres, carecidos dos meios de subsistência, os que estão privados da liberdade, os cegos que não vêem a beleza da criação, os que vivem com a amargura no coração, ou então os que sofrem por causa da injustiça social e, por fim, os pecadores. Em relação a estes últimos, de modo especial, o Messias torna-se sinal particularmente legível de Deus que é amor, torna-se sinal do Pai. Do mesmo modo que os homens de então, também os homens do nosso tempo podem ver o Pai, neste sinal visível.
É igualmente significativo que, quando os mensageiros enviados por João Batista vieram ter com Jesus e lhe perguntaram — «Tu és Aquele que está para vir, ou temos que esperar outro?» — Ele, referindo-se ao mesmo testemunho com que havia inaugurado o seu ensino em Nazaré, lhes tenha respondido: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os  mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a Boa-Nova»; e é ainda significativo que tenha depois concluído: “Bem-aventurado aquele que não se escandalizar a meu respeito”.
Jesus revelou, sobretudo com o seu estilo de vida e com as suas ações, como está presente o amor no mundo em que vivemos amor operante, amor que se dirige ao homem e abraça tudo quanto constitui a sua humanidade. Tal amor transparece especialmente no contacto com o sofrimento, injustiça e pobreza; no contacto com toda a «condição humana» histórica, que de vários modos manifesta as limitações e a fragilidade, tanto físicas como morais, do homem. Precisamente o modo e o âmbito em que se manifesta o amor são chamados na linguagem bíblica «misericórdia».
Cristo, portanto, revela Deus que é Pai, que é «amor», como se exprimiria São João na sua primeira carta. Revela Deus «Rico em misericórdia», como lemos em São Paulo. Esta verdade, mais do que tema de ensino, é realidade que Cristo nos tornou presente.
Tornar presente o Pai como amor e misericórdia, constitui na consciência do próprio Cristo, ponto fundamental do exercício da sua missão messiânica. Confirmam-no as palavras por Ele pronunciadas, primeiro na sinagoga de Nazaré e, depois, diante dos seus discípulos e dos enviados de João Batista.
Baseando-se neste modo de manifestar a presença de Deus, que é Pai, amor e misericórdia, Jesus faz da mesma misericórdia um dos principais temas da sua pregação. Como de costume, também neste ponto ensina antes de mais «em parábolas», porque exprimem melhor a própria essência das coisas. Basta recordar a parábola do filho pródigo, ou a parábola do bom samaritano ou ainda, por contraste, a do servo sem compaixão.
Numerosas são ainda as passagens do ensinamento de Cristo que manifestam o amor e misericórdia sob um aspecto sempre novo. Basta ter diante dos olhos o bom pastor que vai à busca da ovelha tresmalhada, ou a mulher que varre a casa à  procura da moeda perdida.
 O Evangelista que trata de modo particular o tema do ensino de Cristo é Lucas, cujo Evangelho mereceu ser chamado «o Evangelho da misericórdia». Quando se trata da pregação, levanta-se um problema de capital importância, no que diz respeito ao significado dos termos e ao conteúdo do conceito de «misericórdia» (em relação como conceito de «amor»). A reta compreensão desse conteúdo é a chave para se entender a própria realidade da misericórdia. E isto é o que para nós mais importa.
Antes de dedicar uma parte das nossas considerações a este assunto, ou seja, antes de estabelecer o significado das palavras e o conteúdo próprio do conceito de «misericórdia», devemos notar que Cristo, ao revelar o amor-misericórdia de Deus, exigia ao mesmo tempo dos homens que se deixassem guiar na própria vida pelo amor e pela misericórdia. Esta exigência faz parte da própria essência da mensagem messiânica e constitui a medula do «ethos» evangélico. O Mestre exprime isto mesmo, quer por meio do mandamento por Ele definido como «o primeiro e o maior», quer sob a forma de bênção, ao proclamar no Sermão da Montanha: «Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia».